ATA DA QUINQÜAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA
SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM
15.12.1998.
Aos quinze dias do mês de dezembro do ano de mil
novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Barco Cisne Branco, a Câmara Municipal
de Porto Alegre. Às dezessete horas e cinqüenta e cinco minutos, constatada a
existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Bacharel Antônio Cechin, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo
nº 205/97 (Processo nº 3488/97), de autoria do Vereador Hélio Corbellini.
Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário da Câmara
Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Ricardo Gothe,
representante do Senhor Prefeito Municipal; o Frei José Carlos Felisberto,
representante do Senhor Vice-Prefeito Municipal; o Desembargador José Francisco
Pellegrini, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul; o Bacharel Antônio Cechin, Homenageado; o Vereador Hélio Corbellini, na
ocasião, Secretário “ad hoc”. Também, como extensão da Mesa, foram registradas
as presenças do Irmão Avelino Madalozzo, representante da Pontifícia
Universidade Católica - PUC; da Jornalista Leila Weiber, representante da
Associação Riograndense de Imprensa - ARI; do Padre Victor Hugo Gerhard,
Secretário do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Ainda, foram
registradas as presenças dos Senhores Baltazar Iglesias e Guido Moesch e de
amigos e convidados do Homenageado e apregoada correspondência recebida,
alusivas à presente solenidade, de autoria do Senhor Agostinho Cechin. A
seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do
Hino Nacional. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da
Casa. O Vereador Hélio Corbellini, em nome das Bancadas do PSB, PDT, PPB e PPS,
discorreu acerca da atuação do Homenageado na luta em prol de uma sociedade
mais igualitária e justa, destacando as idéias por ele pregadas da importância
da liberdade para o ser humano, como fator básico de crescimento e de
concretização da cidadania. A Vereadora Maristela Maffei, em nome da Bancada do
PT, tecendo considerações sobre o trabalho realizado pelo Homenageado na busca
de valorização da solidariedade e de ajuda aos grupos socialmente excluídos,
declarou que "a história da humanidade não tem sentido se não tivermos
homens e mulheres com a força e o vigor que nos passa o Senhor Antônio
Cechin". A Vereadora Annamaria Gularte, em nome da Bancada do PSDB,
destacou a justeza do Título hoje entregue, como o reconhecimento da comunidade
porto-alegrense aos serviços meritórios prestados pelo Senhor Antônio Cechin na
defesa da população carente que habita as ilhas do Rio Guaíba. Após, foram
ouvidos números musicais interpretados pelos jovens Cinara Tosche, Jean Marcel
e Roni Ritter, alunos do Colégio Champagnat. A seguir, o Senhor Presidente
informou que os Líderes das Bancadas do PTB e PMDB solicitaram o registro de
suas congratulações ao Homenageado. Em continuidade, convidou o Vereador Hélio
Corbellini e Senhor Ricardo Gothe a procederem à entrega do Diploma e da
Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor
Antônio Cechin e concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título
recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem
à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e dez
minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Reginaldo Pujol e
secretariados pelo Vereador Hélio Corbellini, Secretário “ad hoc”. Do que eu,
Hélio Corbellini, Secretário "ad hoc" , determinei fosse lavrada a
presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º
Secretário e Presidente.
O
SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Estão
abertos os trabalhos da Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico
de Cidadão de Porto Alegre ao Bacharel Antonio Cechin, nos termos do PLL nº
205/97 (Proc. 3488/97), de autoria do Ver. Hélio Corbellini.
Convidamos a todos para, em pé, ouvirmos
o Hino Nacional Brasileiro.
(É executado o Hino Nacional Brasileiro.)
Presentes os Senhores representantes do
Sr. Prefeito Municipal, o Dr. Ricardo Gothe e
nosso conhecido, eis que atuante junto à Câmara Municipal; também o Frei
José Carlos Felisberto, representando o Sr. Vice-Prefeito de Porto Alegre. Presenças gratificantes para nós, que
qualificam esta inédita Sessão, entre as quais o Ver. Hélio Corbellini, autor
da Proposição, um dos estimuladores para que ocorresse esta Sessão Solene nesta
forma, a Ver.ª Annamaria Gularte, da Ver.ª Maristela Maffei e do Ver. Gilberto
Batista, quem representando todo o conjunto da Câmara, ainda envolvida em um
dos seus atos regimentais, que é a eleição da nova Mesa Diretora,
obrigatoriamente realizada na data de hoje, 15 de dezembro, de dois em dois
anos.
Peço a atenção de todos e a compreensão,
porque algumas falhas técnicas deveremos ter no desenvolvimento dos nossos
trabalhos, plenamente compreensíveis, porque é a primeira vez que estamos
realizando uma Sessão Solene no Barco Cisne Branco. Esperamos que estejamos
introduzindo um fato novo no cotidiano da Câmara, na medida em que alguns, até
há pouco tempo, achariam que esta decisão nossa seria muito ousada. Mas,
algumas falhas serão toleradas por todos que aqui acorreram com tão boa
vontade, sobretudo em função do ato principal ser a entrega ao Bacharel Antônio
Cechin do Diploma e da Medalha correspondente à cidadania de Porto Alegre, por
Proposição do Ver. Hélio Corbellini.
Registramos algumas presenças,
especialmente o homenageado Bacharel Antônio Cechin; o Senhor representante da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Irmão – PUC, o Irmão
Avelino Madalozzo, a quem tenho o prazer de me referir, colega do homenageado e
pessoa que tive oportunidade de testar sua ação comunitária no Campus
aproximado da PUC na Vila Nossa Senhora de Fátima; o Senhor representante da
Associação Riograndense de Imprensa, a nossa ARI, a Jornalista e grande amiga
da Casa, Leila Weiber; o Senhor Secretário do Conselho Nacional dos Bispos do
Brasil, Padre Victor Hugo Gerhard; demais convidados e amigos do homenageado.
Tem a palavra o Ver. Hélio Corbellini, na condição de proponente e representante da sua Bancada, o PSB, do PDT, do PPB, e do PPS.
O
SR. HÉLIO CORBELLINI: Sr.
Presidente, Ver. Reginaldo Pujol, Senhor representante do Prefeito, companheiro
Ricardo, Frei Felisberto, meu irmão, meu guru, Antônio Cechin, amigos e amigas
do Antonio.
O Antônio Cechin, esse cidadão que aqui
está, e que hoje passa a ser Cidadão de Porto Alegre. Uma das primeiras coisas
que ele me ensinou foi não ficar acomodado, foi tentar romper os limites, foi
quebrar, sempre que puder, os tabus que amarram o cidadão à burocracia.
Aprendemos isso, e esta Sessão é um símbolo disto, porque, pela primeira vez na
história da nossa Câmara, estamos fazendo uma Sessão Solene da Câmara neste
lugar maravilhoso, neste rio, enxergando Porto Alegre, no rio que hoje és um
símbolo, através da tua procissão das águas, da tua, da nossa Nossa Senhora.
O que falar do Antônio? Todos conhecemos
uma parte, uma faceta do Antônio Cechin. Não
vou dizer todos os predicados do Antônio, porque quando fui eleito Vereador
fiquei sabendo que cada Vereador pode apresentar a indicação para um título de
Cidadão de Porto Alegre por ano. Talvez, durante os quatro anos vou apresentar
só este título de Cidadão, ao Antônio Cechin. Como eu chamo ele, na intimidade,
de “meu guru”, estou pagando a ele tudo que penso e reflexiono na minha
sociedade.
Ele me ensinou tudo, a ser rebelde,
aquele “coloninho” que estudava na Escola Nossa Senhora do Rosário, tímido,
embutido, esse companheiro começou a me ensinar, através, e principalmente, da
“Rerun Novarum”, que o mundo não era aquele mundo que estávamos imaginando, que
no mundo tinha justiça e tinha injustiça, que no mundo tinha excluídos e
privilegiados, que o mundo exigia de nós uma participação e uma doação. Esses
anos, que são os meus anos dourados, na militância da Ação Católica, montaram o
alicerce, a base de toda a minha rebeldia até hoje.
Ali aprendi uma coisa da qual nunca abri
e nunca vou abrir mão: o cidadão, antes de mais nada, é livre, mesmo que muito
cedo essa mesma sociedade tenha jogado a mim e outros companheiros nos anos
difíceis, onde sofremos na carne tudo que estávamos tentando demonstrar e
mostrar.
Em 1964 começaram os nossos “anos de
chumbo” de maneira muito precoce para aquela juventude. Ali doeu a injustiça e
vimos que não são somente os excluídos que sofrem injustiças, mas todos que em
algum momento se colocaram no lugar deles. Naqueles “anos de chumbo”, onde tu,
Antônio sofreu muito mais do que eu, sofremos solidariamente, porque decidimos
que o nosso “eu” deveria ser naquele período absolutamente tomado pelo “nós”,
pelo coletivo, e assim atravessamos os anos de sofrimento.
Depois, veio o tempo da serenidade, com a
nossa consciência de que tudo aquilo que fizemos voltaríamos a fazer, com uma
grande sensação de que, talvez, poderíamos ter feito mais. Ainda hoje, com toda
a tua idade, cada vez mais estás mostrando à sociedade, a esse teu discípulo, a
outros de quem fostes mestre, de que agora, neste novo tempo de paz e harmonia,
tempo que temos que nos engajar absolutamente no grande desafio que tem a nossa
civilização, neste final de milênio, que é como trazer definitivamente os
excluídos para dentro da sociedade. Num milênio muito triste, num fim de
milênio onde todos os paradigmas por que lutamos ficaram desautorizados diante
dos atos de quase todos os governos. Esse é o desafio, Antônio.
O que levar ao terceiro milênio? O que
deve nos alentar a luta para o terceiro milênio, fora da disputa fratricida
entre irmãos, da luta ideológica? Para nós estamos entrando na era dos direitos
do cidadão. Este tem que ser, Antônio, o nosso paradigma para o terceiro
milênio. Lá nesta questão temos o nosso amigo Jesus Iglesias, dos companheiros
do Guaíba Vive, companheiro que passou conosco todo este período de juventude,
conosco na JEC, conosco nos anos de rebeldia, na luta contra a ditadura e até
hoje neste movimento “Viva Guaíba” que tenta resgatar a natureza para o
cidadão, em função do cidadão, dentro do desenvolvimento harmonioso e justo.
Não preparei nenhum discurso, apenas
digo, Antônio, que Porto Alegre hoje fica com a sua consciência um pouco mais
rica, porque tem um Cidadão que já foi um cidadão do mundo, um cidadão que em
todos os lugares do mundo, em todos os lugares por este Brasil, onde passou,
sempre, em todos os momentos, teve somente um pensamento, que é o pensamento
para os pobres, para os excluídos. Como estava te dizendo, Antonio, quando
chegamos aqui: tu tens um lugar no Céu bem mais alto do que todos nós.
Ele estava dizendo que em Paris, quando
foi confessar, o padre perguntou de onde ele era. Quando disse que era do
Brasil, e o que ele fazia, - disse que trabalhava com os Emaús -, então, o
padre disse: “meu filho, tu já estás perdoado. Já estás perdoado porque quem
trabalha com os pobres tem todos os seus pecados perdoados”. Esse é o Antônio.
Só que ele devia ter muitos pecados, porque mais do que qualquer outro ele
trabalha para os pobres.
Porto Alegre agradece ao Antônio e
orgulha-se de ter a ti como Cidadão de Porto Alegre. Meu querido irmão e guru:
longa vida para ti, longa vida para a Nossa Senhora das Águas. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Faço um
registro: o Ver. Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
recebeu o seguinte telegrama, cujo texto vou ler, antes de entregá-lo ao nosso
homenageado. É o seguinte:
“Ver. Luiz Braz. Avenida Loureiro da
Silva 255, Câmara de Porto Alegre. Transmita mano Antonio Cechin cumprimentos
merecida entrega Título Cidadão Porto Alegre. Abraços.
(a)
Agostinho
Cechin
Avenida
N. Sra. das Dores 796
Santa Maria”.
Estamos recebendo os cumprimentos do Sr.
Baltazar Iglesias, que evidentemente se solidariza conosco e faz a guarda de
honra para a nossa nave que se desloca pelo mar interior do Rio Grande.
Com muita satisfação registro, entre as
inúmeras pessoas presentes, e é uma referência especial que peço vênia aos
demais convivas para fazê-lo, nosso ex-parlamentar do Rio Grande, grande homem público
do Rio Grande do Sul, Procurador do Estado, Deputado Guido Moesch, a quem faço
a merecida citação.
A Ver.ª Maristela Maffei, em nome do PT,
está com a palavra.
A
SRA. MARISTELA MAFFEI:
(Saúda os componentes da Mesa e demais convidados.) Vejo aqui tantas pessoas
que fizeram parte da minha caminhada. Muito me orgulha estar neste momento
aqui, porque com certeza não é por acaso, porque cada passo que tenho em minha
existência devo muito a esta figura, que tem um lugar muito especial em meu
coração, que é o nosso querido Antônio Cechin.
Nós que somos, na grande maioria,
migrantes do interior nos deparamos com esta grande capital, com esta grande
cidade, e ficamos perdidos entre uma cultura urbana e uma cultura rural, e,
muitas vezes, não temos pessoas que nos ajudem a encontrar um caminho no meio
desta selva, que quase sempre é para todos.
A minha família teve muita sorte, pois
quando chegamos a Porto Alegre primeiro nos deparamos com os franciscanos,
depois nos deparamos com as demais congregações da Igreja Católica e, entre
essas, estava o Irmão Cechin. Lá na CEBS, eu ainda menina, depois na Pastoral
Operária, aprendia que na vida, sem solidariedade, sem termos um espírito
humanitário jamais poderemos ser alguém transformador e verdadeiro construtor da
história.
Pois, Antônio Cechin, do fundo do meu
coração posso dizer que, assim como eu, muitos dos que estão aqui, e muitos que
não puderam estar aqui, são de fato não apenas passageiros da história, mas
construtores da história, parte da história, de devem isso também a ti, porque
tu nos ensinastes passos mais seguros, mais tranqüilos, porque certamente tu
também aprendestes, e sabemos com quem, sob a luz do evangelho, sob a luz
vigorosa da nossa Mãe Maria, o melhor caminho que nos momentos mais difíceis
deu-nos a inspiração. A inspiração de que nesta vida não é apenas o ter, porque
nesta sociedade, e tenho repetido muito isto, onde infelizmente homens e
mulheres têm trocado o ser pelo ter a vida torna-se estéril, onde o mercado é o
novo “Deus”. E isto não tem sentido. Digo isso com a maior convicção,
acreditando que as pessoas de boa fé, de boa intenção também pensam desta
forma.
A História da humanidade não tem sentido
se não tivermos homens e mulheres com esta força, este vigor, sempre presente,
que o Irmão Cechin nos passa.
Em nome da Bancada do Partido dos
Trabalhadores, em nome de todas aquelas pessoas que acreditam que o verdadeiro
sentido da vida está na solidariedade de encontrar uma sociedade, que vamos
fazer, hoje e sempre, com muito vigor revolucionário, no mais forte sentido,
sob a luz do evangelho, sob a força de Maria, que é nossa Mãe, o nosso muito
obrigado.
Tu sabes, Cechin, porque estivestes lá
junto com aqueles, catando lixo, e sabes bem o que é um sociedade excluída, mas
sabes que não existem pobres, não existe um Deus que fez os homens e mulheres
pobres, existem homens que despojaram estas pessoas de uma vida que poderia ser
para todos.
Por isso, Cechin, fiz questão de estar
aqui para dizer isso, que tu tens lugar não apenas no meu coração, mas no
coração de cada pessoa que tu ensinastes a viver e a ter uma vida mais digna.
Obrigada a todos.
(Não revisto pela oradora.)
O
SR. PRESIDENTE: A Ver.ª
Annamaria Gularte, em nome do PSDB, está com a palavra.
A
SRA. ANNAMARIA GULARTE: Sr.
Presidente, em exercício, Ver. Reginaldo Pujol, e Srs. Vereadores. (Saúda os
componentes da Mesa e demais presentes.) Eu acredito que, hoje, Porto Alegre
sente-se muito feliz, mas muito feliz, mesmo, Irmão Antônio Cechin, por este
Título que vai ser outorgado ao Senhor nesta tarde maravilhosa. Deus foi
bastante benevolente conosco e com o Senhor, pelo trabalho que tem
desenvolvido, nos dando esta tarde ensolarada, bonita, para que este passeio,
que foi programado pelo nosso querido amigo Ver. Hélio Corbellini, pudesse
vingar, pudesse ter este êxito.
Gostaríamos de parabenizar o Ver. Hélio
Corbellini por esta iniciativa. Pelo o que verificamos na Exposição de Motivos
e no que foi abordado, é muito meritória esta homenagem que está sendo feita.
Vou ser breve, em função das festividades
e o que as próprias pessoas vão dizer é o que eu poderia dizer aqui. O próprio
povo diz quem é o Irmão Cechin para estas Ilhas. Foi, aqui, que nós conhecemos
e ficamos sabendo quem é o Irmão Antônio Cechin. Parabéns, Irmão, por tudo o
que o Senhor tem feito pela nossa Capital, pela nossa gente, não só pelo povo
de Porto Alegre, mas pelo povo do Rio Grande do Sul. Eu acredito que todo o
porto-alegrense sente-se honrado de o Senhor estar entre nós e podermos estar
lhe outorgando este Título e esta medalha. Muito grata ao Senhor, por tudo.
Parabéns. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O
SR. PRESIDENTE: A cena
que nós estamos vivendo é indescritível. Só quem, como nós, tem o privilégio de
vivê-la pode sentir o que efetivamente está ocorrendo, na integração da
comunidade com o seu - permita usar a sua expressão, Vereador Corbellini -, o
seu “guru” que, pelo visto, o é de muita mais gente que do Ver. Hélio
Corbellini. A comunidade espontaneamente se reúne e se associa à Câmara de Vereadores
nesta homenagem que está sendo prestada. Eu gostaria, até, assegurando a
manutenção deste clima, de antecipar, a
palavra do nosso homenageado.
No entanto, todos nós sabemos que o nosso
Homenageado foi, por muito tempo, professor do Colégio Champagnat e os alunos
do Colégio Champagnat querem homenagear seu ex-Diretor, apresentando algumas
músicas. Cinara Tosche, que é a representante dos alunos deste Colégio,
interpretará a canção “Um dia eu volto”, de sua autoria.
(É feita a interpretação de Cinara Tosche.)
(Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE: Prosseguindo,
vamos ouvir “O Sole mio”, interpretado por Jean Marcel e Roni Ritter.
(É feita a interpretação de Jean Marcel e
Roni Ritter.) (Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE: Quero
cumprimentar os alunos do Colégio Champagnat, que foram brilhantes na homenagem feita ao seu
ex-Diretor.
Nós temos uma incumbência, que nos foi
transferida pelo Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Luiz Braz, que não
pôde estar presente, como era o seu desejo, pois temos, hoje, que cumprir uma
determinação, não só do Regimento Interno da Câmara Municipal como também da
Lei Orgânica do Município, que determina que, de dois e dois anos, tenhamos,
neste dia e nesta hora, que eleger a Mesa Diretora da Câmara Municipal.
Solicita o Ver. Luiz Braz e, da mesma forma, o Ver. João Dib, Líder do Partido
Progressista Brasileiro, o Ver. Fernando Záchia, Líder do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro, que transfiram ao Senhor as homenagens que, de resto, é
de todo o Legislativo de Porto Alegre que se somou à iniciativa do Ver. Hélio
Corbellini e, de forma unânime, decidiu pela concessão deste Título.
Nesta hora, lamentamos por eles por não
estarem participando deste momento tão expressivo que, efetivamente, marca de
forma bastante forte um momento especialíssimo para o Legislativo de Porto
Alegre. Eu nunca imaginei que iria presidir uma Sessão da Câmara, no Cisne
Branco, entre a Ilha das Flores e a Ilha Grande dos Marinheiros, onde o nosso
Homenageado tem uma grande tarefa.
Então, Ver. Hélio Corbellini, quero pedir
vênia ao Homenageado para também homenageá-lo, neste dia, porque, se não fosse
a sua iniciativa, todos estes fatos não tinham se desdobrados. O destino tem
sido pouco caprichoso entre nós, durante toda a vida tive grandes vinculações com
a família do Ver. Hélio Corbellini, mas não com ele, os meus laços de amizades
eram mais com os seus irmãos, o Ênio e o Vânio, especialmente, e no Legislativo
de Porto Alegre acabamos nos aproximando, até por uma casualidade, sentamos
juntos, tendo Bancadas ao lado. Eu que tinha nele apenas uma referência pela
família que ele tem.
Então, no dia de hoje, quero
cumprimentá-lo por toda a sua sensibilidade social, política, de ter tido esta
inspiração de, homenageando o Dr. Antônio Cechin, nos dá a possibilidade de
realizar esta memorável Sessão.
Dando continuidade aos nossos trabalhos,
eu solicito ao Ver. Hélio Corbellini para que, juntamente com o representante
do Sr. Prefeito Municipal, possamos formalizar a entrega do Diploma de Cidadão
Honorário de Porto Alegre e, também, a Medalha correspondente a esta áurea.
(É feita a entrega do Diploma e da
Medalha ao Homenageado.) (Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE: Nosso
Homenageado, nosso Cidadão de Porto Alegre, Antônio Cechin, está com a palavra.
Ao Senhor dos céus e dos mares, Deus,
agradecemos por nos colocar nesta privilegiada situação de presidir esta
histórica Sessão.
O
SR. ANTÔNIO CECHIN: Sr.
Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) O discurso final que eu havia preparado era mais para ser
pronunciado lá, perante e perante o povo da Ilha. Naturalmente, este discurso
que, agora, vou fazer fica um pouco truncado, mas farei o possível para
interpretar os sentimentos.
Em primeiro lugar, foi num arroubo de
generosidade a Câmara de Vereadores decidir dar este Título por sugestão do meu
companheiro de sofrimento nos “anos de chumbo”, o querido, o caríssimo Hélio
Corbellini. Naturalmente, não só esse ato foi decidido pela Câmara de
Vereadores como foi envolvido nesse carinho, nesse ritual e que representa,
para mim, uma verdadeira liturgia, uma verdadeira procissão fluvial.
Meus amigos que estão aqui presentes,
vocês são realmente aqueles que construíram a minha cidadania. Conforme diz o
Paulo Freire, “a gente não educa ninguém, a gente se educa em comunhão, uns com
os outros, numa relação educadora, educando, e educando o educador”.
Portanto, se, hoje, eu sou Cidadão de
Porto Alegre, eu devo a vocês. Graças a Deus, eu costumo dizer: vocês, apesar
do contato comigo, conseguiram ainda se conservar, porque, realmente, eu sinto
que, como professor e educador, eu não tinha as qualidades necessárias.
Naturalmente, com o andar dos anos, como no “trotar da carreta as abóboras se
acomodam”, a gente foi aprendendo.
De qualquer maneira, eu lembro, hoje, com
saudades, o primeiro descobrimento que eu fiz em Porto Alegre, em janeiro de
1937. Eu vinha com nove para dez anos da minha cidade natal, Santa Maria,
depois de uma viagem inteira, durante a noite, e fiquei de olhos arregalados,
quando, na Igreja Navegantes, de trem, costeávamos todo este Guaíba até a
Estação Central, que estava situada na Rua da Conceição. Este rio me fascinou e
parece que, no término da minha carreira, o rio da minha descoberta de Porto
Alegre continua sendo o rio dos meus trabalhos, o rio da minha vida.
O chará, Padre Antônio Vieira, literato
maior do tempo do Brasil Colônia, ele, em carta, a um Padre amigo, o Padre
Francisco de Avelar, no Maranhão, no ano de 1658, escreveu o seguinte: “Não há maior comédia que a minha vida e
quando eu quero ou chorar ou rir, ou admirar-me, ou dar graças a Deus, ou
zombar do mundo, não tenho mais que olhar para mim.”
Naturalmente, a minha vida não tem o
extraordinário da vida do Padre Antônio Vieira, mas eu, neste momento, sinto a
mesma coisa que ele sentia, porque, desde aquele momento em que eu entrava em
Porto Alegre, naquela tenra idade, eu já vinha destinado à Congregação dos
Irmãos Maristas e, depois de nove anos de preparação, eu comecei a minha missão
no Colégio Rosário, obediente à norma do Fundador, formar virtuosos cidadãos e
bons cristãos. Por isso, hoje, neste contexto, citado pelo Ver. Hélio
Corbellini, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, este ritual, ele
naturalmente adquire uma dimensão quase infinita, porque vivemos num mundo onde
a não cidadania aumenta terrivelmente.
Então, é, até com certo constrangimento,
eu lidando nestas Vilas que vocês viram, com papeleiros que, de tanto
trabalharem com lixo, na linha da pedagogia do oprimido de Paulo Freire, eles
se convencem, muitas vezes, que eles também são lixos. Então, todo este
trabalho de recuperação da cidadania, este esforço sobre-humano, mas graças a
Deus, com eles, nós conseguimos até chegar a trabalhar de maneira de
cooperatividade. Por isso, eles, como exemplo símbolo dos excluídos, acenam
para esta possibilidade imensa que nós temos de organizar todos os outros tipos
de pessoas.
Por isso, é com emoção que, hoje, eu
tenho que agradecer a todos que aqui vieram, às autoridades, aos amigos, e,
realmente, sinto que, através de uma educação libertadora, nós podemos fazer um
trabalho imenso como, aliás, testemunham estes dois Vereadores que
entrecruzaram a trajetória das vidas deles com a minha, de tal maneira, que eu
sinto, até hoje, como companheiros, como irmãos, Hélio Corbellini e a Maristela
Maffei.
Por isso, hoje, com a arrancada dos
movimentos dentro da Igreja, fé e política, nós temos a certeza de que aquela
cidadania, que a gente construía em salas de aula, nas famílias, nas Igrejas,
hoje, ela está multiplicada por mil.
Como vocês sabem, numa pesquisa que foi
feita em São Paulo, as três grandes instituições que historicamente
influenciavam para a cidadania eram família, escola e Igreja. Pois, hoje, dizem
os pesquisadores, estas instituições só influenciam 30% na vida dos jovens.
Existe, fora destas instituições, outras grandes influências. E é por isso
mesmo que, depois de trabalhar em colégio, quando a Revolução de 1964, a
Redentora (entre aspas), me fechou as portas do centro, eu parti para a
periferia, para trabalhar exatamente
aonde se amontoam os não cidadãos. E é com maior orgulho que eu estou no meio
deles, apesar de sentir que, naturalmente, como eu pensava ter abandonado o
centro, ter perdido a prática de fazer discursos, de repente sou resgatado novamente
para o centro.
Mas, de qualquer maneira, esta viagem,
este ritual, é uma grande liturgia, porque, vejam, nós saímos do centro em
direção à periferia. Pois esta foi a marcha central da minha vida e, junto
comigo, todos que aqui estão, que trabalham a partir do centro para, de alguma
maneira, minorar o sofrimento da periferia. Também, aqui, nós estamos fazendo
este ritual, acompanhados destes barcos que, a cada ano, no dia 12 de outubro,
junto com estes pobres da periferia, nós organizamos a procissão fluvial de
Nossa Senhora. Aparecida das Águas, aonde o centro abraça a periferia, lá onde
está o santuário que vocês acabaram de ver, onde está Nossa Senhora Aparecida,
Mãe dos oprimidos.
Foram os papeleiros que nos ensinaram
isso, naquele galpão que vocês viram de fronte aquele Santuário, as mulheres
negras, elas, olhando para nós, minha irmã Matilde e eu, quando lhes contamos a
história de Nossa Senhora Aparecida, esta imagem que foi catada numa rede de
pescadores e, depois, reciclada e devolvida ao culto, eles descobriram que ela
era a padroeira deles, porque, se, em 1717, ela surgiu das águas e surgiu da
cor negra, porque os últimos dos seus filhos, os negros, eram tratados como
lixo, hoje, naquele galpão, volta e meia, as mulheres abrem os seus saquinhos
de lixo e descobrem uma estátua de Maria feita em pedaços. O senso do sagrado
desperta dentro delas o serviço. Elas juntam os pedaços e nos entregam, a
Matilde e a mim, para que esta imagem volte ao culto.
Então, no final deste milênio, quando as massas
estão excluídas, Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, aparece, não das
águas, ela aparece no meio do lixo, porque a maioria da humanidade, hoje, é
tratada como lixo. Mas essas mulheres dizem: Ela saindo destes saquinhos do
lixo, Ela nos devolve a dignidade, porque Ela está a dizer: “vocês são tratados
como lixo diante do preconceito da sociedade, eu quero ser lixo como vocês para
que, junto com vocês, de maneira comunitária, de maneira cooperativada, nós
possamos nos redimir”.
Por isso, meus amigos, os papeleiros, eu
não canso de dizer, eles são os profetas da Ecologia, que muito tempo antes de
se falar em Ecologia, a minha Irmã e eu os ensinamos que não existe lixo. Lixo
é matéria-prima acumulada. Mudaram o conceito. E, separando, devolvendo para a
indústria, eles realmente nos ajudam a despoluir.
É como o Profeta Jonas, que vocês
conhecem pela Bíblia, ele saiu pela cidade de Nínive a pregar a destruição da
cidade por missão de Deus, destruição que não aconteceu depois.
O papeleiro, o catador, ele é profeta,
porque ele dá uma boa notícia e, ao mesmo tempo, uma má notícia para a
sociedade porto-alegrense. Qual é a má notícia? Ele, recolhendo lixo pela
cidade, ele diz aos porto-alegrenses: “vocês, sociedade consumista, estão com
os dias contados, porque produzem mil toneladas de lixo por dia. E, nesse andar
das coisas, a camada de ozônio está-se acabando, nós estamo-nos alimentando com
agrotóxicos, estamos nos envenenando. Então, se vocês continuarem nesta
caminhada, serão destruídos”. Mas, ao mesmo tempo, eles dão uma boa notícia,
chamando a atenção para o seu trabalho: “Olhem para mim, assim como eu passo de
casa em casa, de loja em loja, recolhendo lixo, o lixo que vocês produzem, eu,
com isto, estou em harmonia com o meio ambiente, como vocês têm que estar. E
não só isso, vocês, sociedade de classe, têm relação de exploração entre vocês.
Ao passo que eu, lá na minha Cooperativa, estabeleceu relações de cooperação e
com isso anuncio a nova humanidade, anuncio uma humanidade mais solidária onde
os direitos humanos serão respeitados. Anuncio o novo milênio”.
Por isso, com esta procissão fluvial,
onde aproximamos os papeleiros aos pertencentes dos grupos náuticos, estamos
querendo abraçar toda a Cidade de Porto Alegre, através deste gesto simbólico
da procissão fluvial, todos os anos, no dia 12 de outubro.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: “Nem
todos os caminhos são para todos os caminhantes, mas existe um caminho que, em
qualquer circunstância e diante de qualquer cenário, é a prova da afirmação e
da conseqüência de uma jornada é o caminho da participação”. Então, não
importando sobre que lado, sobre que enfoque, sobre que vertente doutrinária ou
ideológica, na luta, na caminhada pela afirmação dos direitos do homem, pelo
resgate do excluído; só não tem lugar a omissão.
Quero saudar, o novo Cidadão de Porto
Alegre que é o testemunho do cristão atuante, firme e convicto nas suas
posições e que faz andar a luta, afirmativamente, porque faz com fé, com
certeza e segurança. Pessoalmente, a
maior homenagem que posso lhe prestar é dizendo o seguinte: “Nunca acreditei
que as coisas pudessem ser resolvidas se nós ficarmos na contemplação e de
braços cruzados, vendo os fatos se sucederem. Precisamos enfrentá-los e
modificá-los à luz das nossas convicções, mesmo que aqui ou acolá essas convicções
possam se entrechocar. Elas precisam ser exercitadas na sua plenitude, porque é
a única forma de nos resgatarmos conosco mesmo e termos a certeza de que
atuante não fomos omissos e, não sendo omissos, contribuímos para o
desenvolvimento e conquista dos nossos objetivos”.
Meu cumprimentos ao ilustre Cidadão de
Porto Alegre a quem prestamos a homenagem final, ao concluir essa Sessão.
Solicitamos que todos, de pé, dêem as
mãos numa corrente de gaúchos e de brasileiros que tiveram o privilégio de
participar dessa memorável Sessão Solene da Câmara Municipal de Porto Alegre,
para ouvirmos a execução do Hino Rio-Grandense.
(É executado o Hino Rio-Grandense.)
Agradecendo, mais uma vez, a presença de
todos, damos por encerrados os trabalhos desta
feliz e inusitada Sessão Solene.
(Encerra-se a Sessão
às 19h10min.)
* * * * *