ATA DA QUINQÜAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 15.12.1998.

 


Aos quinze dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Barco Cisne Branco, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e cinqüenta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Bacharel Antônio Cechin, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 205/97 (Processo nº 3488/97), de autoria do Vereador Hélio Corbellini. Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Ricardo Gothe, representante do Senhor Prefeito Municipal; o Frei José Carlos Felisberto, representante do Senhor Vice-Prefeito Municipal; o Desembargador José Francisco Pellegrini, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; o Bacharel Antônio Cechin, Homenageado; o Vereador Hélio Corbellini, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Também, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Irmão Avelino Madalozzo, representante da Pontifícia Universidade Católica - PUC; da Jornalista Leila Weiber, representante da Associação Riograndense de Imprensa - ARI; do Padre Victor Hugo Gerhard, Secretário do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Ainda, foram registradas as presenças dos Senhores Baltazar Iglesias e Guido Moesch e de amigos e convidados do Homenageado e apregoada correspondência recebida, alusivas à presente solenidade, de autoria do Senhor Agostinho Cechin. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Hélio Corbellini, em nome das Bancadas do PSB, PDT, PPB e PPS, discorreu acerca da atuação do Homenageado na luta em prol de uma sociedade mais igualitária e justa, destacando as idéias por ele pregadas da importância da liberdade para o ser humano, como fator básico de crescimento e de concretização da cidadania. A Vereadora Maristela Maffei, em nome da Bancada do PT, tecendo considerações sobre o trabalho realizado pelo Homenageado na busca de valorização da solidariedade e de ajuda aos grupos socialmente excluídos, declarou que "a história da humanidade não tem sentido se não tivermos homens e mulheres com a força e o vigor que nos passa o Senhor Antônio Cechin". A Vereadora Annamaria Gularte, em nome da Bancada do PSDB, destacou a justeza do Título hoje entregue, como o reconhecimento da comunidade porto-alegrense aos serviços meritórios prestados pelo Senhor Antônio Cechin na defesa da população carente que habita as ilhas do Rio Guaíba. Após, foram ouvidos números musicais interpretados pelos jovens Cinara Tosche, Jean Marcel e Roni Ritter, alunos do Colégio Champagnat. A seguir, o Senhor Presidente informou que os Líderes das Bancadas do PTB e PMDB solicitaram o registro de suas congratulações ao Homenageado. Em continuidade, convidou o Vereador Hélio Corbellini e Senhor Ricardo Gothe a procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Antônio Cechin e concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e dez minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Reginaldo Pujol e secretariados pelo Vereador Hélio Corbellini, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Hélio Corbellini, Secretário "ad hoc" , determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Estão abertos os trabalhos da Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Bacharel Antonio Cechin, nos termos do PLL nº 205/97 (Proc. 3488/97), de autoria do Ver. Hélio Corbellini.

Convidamos a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

(É executado o Hino Nacional Brasileiro.)

 

Presentes os Senhores representantes do Sr. Prefeito Municipal, o Dr. Ricardo Gothe e  nosso conhecido, eis que atuante junto à Câmara Municipal; também o Frei José Carlos Felisberto, representando o Sr. Vice-Prefeito de Porto Alegre.  Presenças gratificantes para nós, que qualificam esta inédita Sessão, entre as quais o Ver. Hélio Corbellini, autor da Proposição, um dos estimuladores para que ocorresse esta Sessão Solene nesta forma, a Ver.ª Annamaria Gularte, da Ver.ª Maristela Maffei e do Ver. Gilberto Batista, quem representando todo o conjunto da Câmara, ainda envolvida em um dos seus atos regimentais, que é a eleição da nova Mesa Diretora, obrigatoriamente realizada na data de hoje, 15 de dezembro, de dois em dois anos.

Peço a atenção de todos e a compreensão, porque algumas falhas técnicas deveremos ter no desenvolvimento dos nossos trabalhos, plenamente compreensíveis, porque é a primeira vez que estamos realizando uma Sessão Solene no Barco Cisne Branco. Esperamos que estejamos introduzindo um fato novo no cotidiano da Câmara, na medida em que alguns, até há pouco tempo, achariam que esta decisão nossa seria muito ousada. Mas, algumas falhas serão toleradas por todos que aqui acorreram com tão boa vontade, sobretudo em função do ato principal ser a entrega ao Bacharel Antônio Cechin do Diploma e da Medalha correspondente à cidadania de Porto Alegre, por Proposição do Ver. Hélio Corbellini.

Registramos algumas presenças, especialmente o homenageado Bacharel Antônio Cechin; o Senhor representante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Irmão – PUC, o Irmão Avelino Madalozzo, a quem tenho o prazer de me referir, colega do homenageado e pessoa que tive oportunidade de testar sua ação comunitária no Campus aproximado da PUC na Vila Nossa Senhora de Fátima; o Senhor representante da Associação Riograndense de Imprensa, a nossa ARI, a Jornalista e grande amiga da Casa, Leila Weiber; o Senhor Secretário do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil, Padre Victor Hugo Gerhard; demais convidados e amigos do homenageado.

Tem a palavra o Ver. Hélio Corbellini, na condição de proponente e representante da sua Bancada, o PSB, do PDT, do PPB, e do PPS.

 

O SR. HÉLIO CORBELLINI: Sr. Presidente, Ver. Reginaldo Pujol, Senhor representante do Prefeito, companheiro Ricardo, Frei Felisberto, meu irmão, meu guru, Antônio Cechin, amigos e amigas do Antonio.

O Antônio Cechin, esse cidadão que aqui está, e que hoje passa a ser Cidadão de Porto Alegre. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou foi não ficar acomodado, foi tentar romper os limites, foi quebrar, sempre que puder, os tabus que amarram o cidadão à burocracia. Aprendemos isso, e esta Sessão é um símbolo disto, porque, pela primeira vez na história da nossa Câmara, estamos fazendo uma Sessão Solene da Câmara neste lugar maravilhoso, neste rio, enxergando Porto Alegre, no rio que hoje és um símbolo, através da tua procissão das águas, da tua, da nossa Nossa Senhora.

O que falar do Antônio? Todos conhecemos uma parte, uma faceta do Antônio Cechin. Não  vou dizer todos os predicados do Antônio, porque quando fui eleito Vereador fiquei sabendo que cada Vereador pode apresentar a indicação para um título de Cidadão de Porto Alegre por ano. Talvez, durante os quatro anos vou apresentar só este título de Cidadão, ao Antônio Cechin. Como eu chamo ele, na intimidade, de “meu guru”, estou pagando a ele tudo que penso e reflexiono na minha sociedade.

Ele me ensinou tudo, a ser rebelde, aquele “coloninho” que estudava na Escola Nossa Senhora do Rosário, tímido, embutido, esse companheiro começou a me ensinar, através, e principalmente, da “Rerun Novarum”, que o mundo não era aquele mundo que estávamos imaginando, que no mundo tinha justiça e tinha injustiça, que no mundo tinha excluídos e privilegiados, que o mundo exigia de nós uma participação e uma doação. Esses anos, que são os meus anos dourados, na militância da Ação Católica, montaram o alicerce, a base de toda a minha rebeldia até hoje.

Ali aprendi uma coisa da qual nunca abri e nunca vou abrir mão: o cidadão, antes de mais nada, é livre, mesmo que muito cedo essa mesma sociedade tenha jogado a mim e outros companheiros nos anos difíceis, onde sofremos na carne tudo que estávamos tentando demonstrar e mostrar.

Em 1964 começaram os nossos “anos de chumbo” de maneira muito precoce para aquela juventude. Ali doeu a injustiça e vimos que não são somente os excluídos que sofrem injustiças, mas todos que em algum momento se colocaram no lugar deles. Naqueles “anos de chumbo”, onde tu, Antônio sofreu muito mais do que eu, sofremos solidariamente, porque decidimos que o nosso “eu” deveria ser naquele período absolutamente tomado pelo “nós”, pelo coletivo, e assim atravessamos os anos de sofrimento.

Depois, veio o tempo da serenidade, com a nossa consciência de que tudo aquilo que fizemos voltaríamos a fazer, com uma grande sensação de que, talvez, poderíamos ter feito mais. Ainda hoje, com toda a tua idade, cada vez mais estás mostrando à sociedade, a esse teu discípulo, a outros de quem fostes mestre, de que agora, neste novo tempo de paz e harmonia, tempo que temos que nos engajar absolutamente no grande desafio que tem a nossa civilização, neste final de milênio, que é como trazer definitivamente os excluídos para dentro da sociedade. Num milênio muito triste, num fim de milênio onde todos os paradigmas por que lutamos ficaram desautorizados diante dos atos de quase todos os governos. Esse é o desafio, Antônio.

O que levar ao terceiro milênio? O que deve nos alentar a luta para o terceiro milênio, fora da disputa fratricida entre irmãos, da luta ideológica? Para nós estamos entrando na era dos direitos do cidadão. Este tem que ser, Antônio, o nosso paradigma para o terceiro milênio. Lá nesta questão temos o nosso amigo Jesus Iglesias, dos companheiros do Guaíba Vive, companheiro que passou conosco todo este período de juventude, conosco na JEC, conosco nos anos de rebeldia, na luta contra a ditadura e até hoje neste movimento “Viva Guaíba” que tenta resgatar a natureza para o cidadão, em função do cidadão, dentro do desenvolvimento harmonioso e justo.

Não preparei nenhum discurso, apenas digo, Antônio, que Porto Alegre hoje fica com a sua consciência um pouco mais rica, porque tem um Cidadão que já foi um cidadão do mundo, um cidadão que em todos os lugares do mundo, em todos os lugares por este Brasil, onde passou, sempre, em todos os momentos, teve somente um pensamento, que é o pensamento para os pobres, para os excluídos. Como estava te dizendo, Antonio, quando chegamos aqui: tu tens um lugar no Céu bem mais alto do que todos nós.

Ele estava dizendo que em Paris, quando foi confessar, o padre perguntou de onde ele era. Quando disse que era do Brasil, e o que ele fazia, - disse que trabalhava com os Emaús -, então, o padre disse: “meu filho, tu já estás perdoado. Já estás perdoado porque quem trabalha com os pobres tem todos os seus pecados perdoados”. Esse é o Antônio. Só que ele devia ter muitos pecados, porque mais do que qualquer outro ele trabalha para os pobres.

Porto Alegre agradece ao Antônio e orgulha-se de ter a ti como Cidadão de Porto Alegre. Meu querido irmão e guru: longa vida para ti, longa vida para a Nossa Senhora das Águas. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Faço um registro: o Ver. Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, recebeu o seguinte telegrama, cujo texto vou ler, antes de entregá-lo ao nosso homenageado. É o seguinte:

“Ver. Luiz Braz. Avenida Loureiro da Silva 255, Câmara de Porto Alegre. Transmita mano Antonio Cechin cumprimentos merecida entrega Título Cidadão Porto Alegre. Abraços.

(a)    Agostinho Cechin

                                                                                           Avenida N. Sra. das Dores 796

    Santa Maria”.

Estamos recebendo os cumprimentos do Sr. Baltazar Iglesias, que evidentemente se solidariza conosco e faz a guarda de honra para a nossa nave que se desloca pelo mar interior do Rio Grande.

Com muita satisfação registro, entre as inúmeras pessoas presentes, e é uma referência especial que peço vênia aos demais convivas para fazê-lo, nosso ex-parlamentar do Rio Grande, grande homem público do Rio Grande do Sul, Procurador do Estado, Deputado Guido Moesch, a quem faço a merecida citação.

A Ver.ª Maristela Maffei, em nome do PT, está com a palavra.

 

A SRA. MARISTELA MAFFEI: (Saúda os componentes da Mesa e demais convidados.) Vejo aqui tantas pessoas que fizeram parte da minha caminhada. Muito me orgulha estar neste momento aqui, porque com certeza não é por acaso, porque cada passo que tenho em minha existência devo muito a esta figura, que tem um lugar muito especial em meu coração, que é o nosso querido Antônio Cechin.

Nós que somos, na grande maioria, migrantes do interior nos deparamos com esta grande capital, com esta grande cidade, e ficamos perdidos entre uma cultura urbana e uma cultura rural, e, muitas vezes, não temos pessoas que nos ajudem a encontrar um caminho no meio desta selva, que quase sempre é para todos.

A minha família teve muita sorte, pois quando chegamos a Porto Alegre primeiro nos deparamos com os franciscanos, depois nos deparamos com as demais congregações da Igreja Católica e, entre essas, estava o Irmão Cechin. Lá na CEBS, eu ainda menina, depois na Pastoral Operária, aprendia que na vida, sem solidariedade, sem termos um espírito humanitário jamais poderemos ser alguém transformador e verdadeiro construtor da história.

Pois, Antônio Cechin, do fundo do meu coração posso dizer que, assim como eu, muitos dos que estão aqui, e muitos que não puderam estar aqui, são de fato não apenas passageiros da história, mas construtores da história, parte da história, de devem isso também a ti, porque tu nos ensinastes passos mais seguros, mais tranqüilos, porque certamente tu também aprendestes, e sabemos com quem, sob a luz do evangelho, sob a luz vigorosa da nossa Mãe Maria, o melhor caminho que nos momentos mais difíceis deu-nos a inspiração. A inspiração de que nesta vida não é apenas o ter, porque nesta sociedade, e tenho repetido muito isto, onde infelizmente homens e mulheres têm trocado o ser pelo ter a vida torna-se estéril, onde o mercado é o novo “Deus”. E isto não tem sentido. Digo isso com a maior convicção, acreditando que as pessoas de boa fé, de boa intenção também pensam desta forma.

A História da humanidade não tem sentido se não tivermos homens e mulheres com esta força, este vigor, sempre presente, que o Irmão Cechin nos passa.

Em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em nome de todas aquelas pessoas que acreditam que o verdadeiro sentido da vida está na solidariedade de encontrar uma sociedade, que vamos fazer, hoje e sempre, com muito vigor revolucionário, no mais forte sentido, sob a luz do evangelho, sob a força de Maria, que é nossa Mãe, o nosso muito obrigado.

Tu sabes, Cechin, porque estivestes lá junto com aqueles, catando lixo, e sabes bem o que é um sociedade excluída, mas sabes que não existem pobres, não existe um Deus que fez os homens e mulheres pobres, existem homens que despojaram estas pessoas de uma vida que poderia ser para todos.

Por isso, Cechin, fiz questão de estar aqui para dizer isso, que tu tens lugar não apenas no meu coração, mas no coração de cada pessoa que tu ensinastes a viver e a ter uma vida mais digna. Obrigada a todos.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Ver.ª Annamaria Gularte, em nome do PSDB, está com a palavra.

 

A SRA. ANNAMARIA GULARTE: Sr. Presidente, em exercício, Ver. Reginaldo Pujol, e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu acredito que, hoje, Porto Alegre sente-se muito feliz, mas muito feliz, mesmo, Irmão Antônio Cechin, por este Título que vai ser outorgado ao Senhor nesta tarde maravilhosa. Deus foi bastante benevolente conosco e com o Senhor, pelo trabalho que tem desenvolvido, nos dando esta tarde ensolarada, bonita, para que este passeio, que foi programado pelo nosso querido amigo Ver. Hélio Corbellini, pudesse vingar, pudesse ter este êxito.

Gostaríamos de parabenizar o Ver. Hélio Corbellini por esta iniciativa. Pelo o que verificamos na Exposição de Motivos e no que foi abordado, é muito meritória esta homenagem que está sendo feita.

Vou ser breve, em função das festividades e o que as próprias pessoas vão dizer é o que eu poderia dizer aqui. O próprio povo diz quem é o Irmão Cechin para estas Ilhas. Foi, aqui, que nós conhecemos e ficamos sabendo quem é o Irmão Antônio Cechin. Parabéns, Irmão, por tudo o que o Senhor tem feito pela nossa Capital, pela nossa gente, não só pelo povo de Porto Alegre, mas pelo povo do Rio Grande do Sul. Eu acredito que todo o porto-alegrense sente-se honrado de o Senhor estar entre nós e podermos estar lhe outorgando este Título e esta medalha. Muito grata ao Senhor, por tudo. Parabéns. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: A cena que nós estamos vivendo é indescritível. Só quem, como nós, tem o privilégio de vivê-la pode sentir o que efetivamente está ocorrendo, na integração da comunidade com o seu - permita usar a sua expressão, Vereador Corbellini -, o seu “guru” que, pelo visto, o é de muita mais gente que do Ver. Hélio Corbellini. A comunidade espontaneamente se reúne e se associa à Câmara de Vereadores nesta homenagem que está sendo prestada. Eu gostaria, até, assegurando a manutenção deste clima, de antecipar,  a palavra do nosso homenageado.

No entanto, todos nós sabemos que o nosso Homenageado foi, por muito tempo, professor do Colégio Champagnat e os alunos do Colégio Champagnat querem homenagear seu ex-Diretor, apresentando algumas músicas. Cinara Tosche, que é a representante dos alunos deste Colégio, interpretará a canção “Um dia eu volto”, de sua autoria.

 

(É feita a interpretação de Cinara Tosche.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Prosseguindo, vamos ouvir “O Sole mio”, interpretado por Jean Marcel e Roni Ritter.

 

(É feita a interpretação de Jean Marcel e Roni Ritter.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Quero cumprimentar os alunos do Colégio Champagnat, que foram  brilhantes na homenagem feita ao seu ex-Diretor.

Nós temos uma incumbência, que nos foi transferida pelo Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Luiz Braz, que não pôde estar presente, como era o seu desejo, pois temos, hoje, que cumprir uma determinação, não só do Regimento Interno da Câmara Municipal como também da Lei Orgânica do Município, que determina que, de dois e dois anos, tenhamos, neste dia e nesta hora, que eleger a Mesa Diretora da Câmara Municipal. Solicita o Ver. Luiz Braz e, da mesma forma, o Ver. João Dib, Líder do Partido Progressista Brasileiro, o Ver. Fernando Záchia, Líder do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, que transfiram ao Senhor as homenagens que, de resto, é de todo o Legislativo de Porto Alegre que se somou à iniciativa do Ver. Hélio Corbellini e, de forma unânime, decidiu pela concessão deste Título.

Nesta hora, lamentamos por eles por não estarem participando deste momento tão expressivo que, efetivamente, marca de forma bastante forte um momento especialíssimo para o Legislativo de Porto Alegre. Eu nunca imaginei que iria presidir uma Sessão da Câmara, no Cisne Branco, entre a Ilha das Flores e a Ilha Grande dos Marinheiros, onde o nosso Homenageado tem uma grande tarefa.

Então, Ver. Hélio Corbellini, quero pedir vênia ao Homenageado para também homenageá-lo, neste dia, porque, se não fosse a sua iniciativa, todos estes fatos não tinham se desdobrados. O destino tem sido pouco caprichoso entre nós, durante toda a vida tive grandes vinculações com a família do Ver. Hélio Corbellini, mas não com ele, os meus laços de amizades eram mais com os seus irmãos, o Ênio e o Vânio, especialmente, e no Legislativo de Porto Alegre acabamos nos aproximando, até por uma casualidade, sentamos juntos, tendo Bancadas ao lado. Eu que tinha nele apenas uma referência pela família que ele tem.

Então, no dia de hoje, quero cumprimentá-lo por toda a sua sensibilidade social, política, de ter tido esta inspiração de, homenageando o Dr. Antônio Cechin, nos dá a possibilidade de realizar esta memorável Sessão.

Dando continuidade aos nossos trabalhos, eu solicito ao Ver. Hélio Corbellini para que, juntamente com o representante do Sr. Prefeito Municipal, possamos formalizar a entrega do Diploma de Cidadão Honorário de Porto Alegre e, também, a Medalha correspondente a esta áurea.

 

(É feita a entrega do Diploma e da Medalha ao Homenageado.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nosso Homenageado, nosso Cidadão de Porto Alegre, Antônio Cechin, está com a palavra.

Ao Senhor dos céus e dos mares, Deus, agradecemos por nos colocar nesta privilegiada situação de presidir esta histórica Sessão.

 

O SR. ANTÔNIO CECHIN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O discurso final que eu havia preparado era mais para ser pronunciado lá, perante e perante o povo da Ilha. Naturalmente, este discurso que, agora, vou fazer fica um pouco truncado, mas farei o possível para interpretar os sentimentos.

Em primeiro lugar, foi num arroubo de generosidade a Câmara de Vereadores decidir dar este Título por sugestão do meu companheiro de sofrimento nos “anos de chumbo”, o querido, o caríssimo Hélio Corbellini. Naturalmente, não só esse ato foi decidido pela Câmara de Vereadores como foi envolvido nesse carinho, nesse ritual e que representa, para mim, uma verdadeira liturgia, uma verdadeira procissão fluvial.

Meus amigos que estão aqui presentes, vocês são realmente aqueles que construíram a minha cidadania. Conforme diz o Paulo Freire, “a gente não educa ninguém, a gente se educa em comunhão, uns com os outros, numa relação educadora, educando, e educando o educador”.

Portanto, se, hoje, eu sou Cidadão de Porto Alegre, eu devo a vocês. Graças a Deus, eu costumo dizer: vocês, apesar do contato comigo, conseguiram ainda se conservar, porque, realmente, eu sinto que, como professor e educador, eu não tinha as qualidades necessárias. Naturalmente, com o andar dos anos, como no “trotar da carreta as abóboras se acomodam”, a gente foi aprendendo.

De qualquer maneira, eu lembro, hoje, com saudades, o primeiro descobrimento que eu fiz em Porto Alegre, em janeiro de 1937. Eu vinha com nove para dez anos da minha cidade natal, Santa Maria, depois de uma viagem inteira, durante a noite, e fiquei de olhos arregalados, quando, na Igreja Navegantes, de trem, costeávamos todo este Guaíba até a Estação Central, que estava situada na Rua da Conceição. Este rio me fascinou e parece que, no término da minha carreira, o rio da minha descoberta de Porto Alegre continua sendo o rio dos meus trabalhos, o rio da minha vida.

O chará, Padre Antônio Vieira, literato maior do tempo do Brasil Colônia, ele, em carta, a um Padre amigo, o Padre Francisco de Avelar, no Maranhão, no ano de 1658,  escreveu o seguinte: “Não há maior comédia que a minha vida e quando eu quero ou chorar ou rir, ou admirar-me, ou dar graças a Deus, ou zombar do mundo, não tenho mais que olhar para mim.”

Naturalmente, a minha vida não tem o extraordinário da vida do Padre Antônio Vieira, mas eu, neste momento, sinto a mesma coisa que ele sentia, porque, desde aquele momento em que eu entrava em Porto Alegre, naquela tenra idade, eu já vinha destinado à Congregação dos Irmãos Maristas e, depois de nove anos de preparação, eu comecei a minha missão no Colégio Rosário, obediente à norma do Fundador, formar virtuosos cidadãos e bons cristãos. Por isso, hoje, neste contexto, citado pelo Ver. Hélio Corbellini, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, este ritual, ele naturalmente adquire uma dimensão quase infinita, porque vivemos num mundo onde a não cidadania aumenta terrivelmente.

Então, é, até com certo constrangimento, eu lidando nestas Vilas que vocês viram, com papeleiros que, de tanto trabalharem com lixo, na linha da pedagogia do oprimido de Paulo Freire, eles se convencem, muitas vezes, que eles também são lixos. Então, todo este trabalho de recuperação da cidadania, este esforço sobre-humano, mas graças a Deus, com eles, nós conseguimos até chegar a trabalhar de maneira de cooperatividade. Por isso, eles, como exemplo símbolo dos excluídos, acenam para esta possibilidade imensa que nós temos de organizar todos os outros tipos de pessoas.

Por isso, é com emoção que, hoje, eu tenho que agradecer a todos que aqui vieram, às autoridades, aos amigos, e, realmente, sinto que, através de uma educação libertadora, nós podemos fazer um trabalho imenso como, aliás, testemunham estes dois Vereadores que entrecruzaram a trajetória das vidas deles com a minha, de tal maneira, que eu sinto, até hoje, como companheiros, como irmãos, Hélio Corbellini e a Maristela Maffei.

Por isso, hoje, com a arrancada dos movimentos dentro da Igreja, fé e política, nós temos a certeza de que aquela cidadania, que a gente construía em salas de aula, nas famílias, nas Igrejas, hoje, ela está multiplicada por mil.

Como vocês sabem, numa pesquisa que foi feita em São Paulo, as três grandes instituições que historicamente influenciavam para a cidadania eram família, escola e Igreja. Pois, hoje, dizem os pesquisadores, estas instituições só influenciam 30% na vida dos jovens. Existe, fora destas instituições, outras grandes influências. E é por isso mesmo que, depois de trabalhar em colégio, quando a Revolução de 1964, a Redentora (entre aspas), me fechou as portas do centro, eu parti para a periferia, para  trabalhar exatamente aonde se amontoam os não cidadãos. E é com maior orgulho que eu estou no meio deles, apesar de sentir que, naturalmente, como eu pensava ter abandonado o centro, ter perdido a prática de fazer discursos, de repente sou resgatado novamente para o centro.

Mas, de qualquer maneira, esta viagem, este ritual, é uma grande liturgia, porque, vejam, nós saímos do centro em direção à periferia. Pois esta foi a marcha central da minha vida e, junto comigo, todos que aqui estão, que trabalham a partir do centro para, de alguma maneira, minorar o sofrimento da periferia. Também, aqui, nós estamos fazendo este ritual, acompanhados destes barcos que, a cada ano, no dia 12 de outubro, junto com estes pobres da periferia, nós organizamos a procissão fluvial de Nossa Senhora. Aparecida das Águas, aonde o centro abraça a periferia, lá onde está o santuário que vocês acabaram de ver, onde está Nossa Senhora Aparecida, Mãe dos oprimidos.

Foram os papeleiros que nos ensinaram isso, naquele galpão que vocês viram de fronte aquele Santuário, as mulheres negras, elas, olhando para nós, minha irmã Matilde e eu, quando lhes contamos a história de Nossa Senhora Aparecida, esta imagem que foi catada numa rede de pescadores e, depois, reciclada e devolvida ao culto, eles descobriram que ela era a padroeira deles, porque, se, em 1717, ela surgiu das águas e surgiu da cor negra, porque os últimos dos seus filhos, os negros, eram tratados como lixo, hoje, naquele galpão, volta e meia, as mulheres abrem os seus saquinhos de lixo e descobrem uma estátua de Maria feita em pedaços. O senso do sagrado desperta dentro delas o serviço. Elas juntam os pedaços e nos entregam, a Matilde e a mim, para que esta imagem volte ao culto.

Então, no final deste milênio, quando as massas estão excluídas, Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, aparece, não das águas, ela aparece no meio do lixo, porque a maioria da humanidade, hoje, é tratada como lixo. Mas essas mulheres dizem: Ela saindo destes saquinhos do lixo, Ela nos devolve a dignidade, porque Ela está a dizer: “vocês são tratados como lixo diante do preconceito da sociedade, eu quero ser lixo como vocês para que, junto com vocês, de maneira comunitária, de maneira cooperativada, nós possamos nos redimir”.

Por isso, meus amigos, os papeleiros, eu não canso de dizer, eles são os profetas da Ecologia, que muito tempo antes de se falar em Ecologia, a minha Irmã e eu os ensinamos que não existe lixo. Lixo é matéria-prima acumulada. Mudaram o conceito. E, separando, devolvendo para a indústria, eles realmente nos ajudam a despoluir.

É como o Profeta Jonas, que vocês conhecem pela Bíblia, ele saiu pela cidade de Nínive a pregar a destruição da cidade por missão de Deus, destruição que não aconteceu depois.

O papeleiro, o catador, ele é profeta, porque ele dá uma boa notícia e, ao mesmo tempo, uma má notícia para a sociedade porto-alegrense. Qual é a má notícia? Ele, recolhendo lixo pela cidade, ele diz aos porto-alegrenses: “vocês, sociedade consumista, estão com os dias contados, porque produzem mil toneladas de lixo por dia. E, nesse andar das coisas, a camada de ozônio está-se acabando, nós estamo-nos alimentando com agrotóxicos, estamos nos envenenando. Então, se vocês continuarem nesta caminhada, serão destruídos”. Mas, ao mesmo tempo, eles dão uma boa notícia, chamando a atenção para o seu trabalho: “Olhem para mim, assim como eu passo de casa em casa, de loja em loja, recolhendo lixo, o lixo que vocês produzem, eu, com isto, estou em harmonia com o meio ambiente, como vocês têm que estar. E não só isso, vocês, sociedade de classe, têm relação de exploração entre vocês. Ao passo que eu, lá na minha Cooperativa, estabeleceu relações de cooperação e com isso anuncio a nova humanidade, anuncio uma humanidade mais solidária onde os direitos humanos serão respeitados. Anuncio o novo milênio”.

Por isso, com esta procissão fluvial, onde aproximamos os papeleiros aos pertencentes dos grupos náuticos, estamos querendo abraçar toda a Cidade de Porto Alegre, através deste gesto simbólico da procissão fluvial, todos os anos, no dia 12 de outubro.

Por isso, meus amigos, não gostaria de me estender mais, mas, de qualquer maneira, eu agradeço a todos e a cada um de vocês. Atrás de cada um de vocês tem uma história, tem uma trajetória. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: “Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes, mas existe um caminho que, em qualquer circunstância e diante de qualquer cenário, é a prova da afirmação e da conseqüência de uma jornada é o caminho da participação”. Então, não importando sobre que lado, sobre que enfoque, sobre que vertente doutrinária ou ideológica, na luta, na caminhada pela afirmação dos direitos do homem, pelo resgate do excluído; só não tem lugar a omissão.

Quero saudar, o novo Cidadão de Porto Alegre que é o testemunho do cristão atuante, firme e convicto nas suas posições e que faz andar a luta, afirmativamente, porque faz com fé, com certeza e segurança. Pessoalmente,  a maior homenagem que posso lhe prestar é dizendo o seguinte: “Nunca acreditei que as coisas pudessem ser resolvidas se nós ficarmos na contemplação e de braços cruzados, vendo os fatos se sucederem. Precisamos enfrentá-los e modificá-los à luz das nossas convicções, mesmo que aqui ou acolá essas convicções possam se entrechocar. Elas precisam ser exercitadas na sua plenitude, porque é a única forma de nos resgatarmos conosco mesmo e termos a certeza de que atuante não fomos omissos e, não sendo omissos, contribuímos para o desenvolvimento e conquista dos nossos objetivos”.

Meu cumprimentos ao ilustre Cidadão de Porto Alegre a quem prestamos a homenagem final, ao concluir essa Sessão.

Solicitamos que todos, de pé, dêem as mãos numa corrente de gaúchos e de brasileiros que tiveram o privilégio de participar dessa memorável Sessão Solene da Câmara Municipal de Porto Alegre, para ouvirmos a execução do Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecendo, mais uma vez, a presença de todos, damos por encerrados os trabalhos desta  feliz e inusitada  Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h10min.)

 

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